Conjunto Prefeito José Walter - 1972
Apresentação
O trabalho em questão
visa mostrar através de imagens e fatos o crescimento do Conjunto Prefeito José
Walter, suas melhorias e modificações no decorrer do tempo.
As Migrações
Uma das mais
importantes transformações ocorridas na sociedade brasileira durante o século XX consistiu no processo de urbanização.
Esse Movimento teve um tímido começo e
se tornou mais visível a partir dos anos de 1930 com o início efetivo da
industrialização do
país, que fez com que mais pessoas se sentissem atraídas pelo modo de vida urbano.
Sendo esse movimento
mais acelerado entre os anos de 1960 e 1970. Os problemas causados por estes
indivíduos em movimento foram sentidos nas principais cidades de diversas maneiras,
sendo comum a todas, a geração ou agravamento do problema de déficit
habitacional.
No Estado do Ceará as
secas e a rigidez na mobilidade social no trabalho do campo sempre foram
grandes motivadores da migração intermunicipal, sendo o maior destino destas migrações a capital do Ceará,
Fortaleza. Nunca fora possível absorver toda
a mão-de-obra que chegava, provocando mais problemas sociais, como a
formação de favelas e acentuação do
desemprego.
O início da
modernização e da industrialização na cidade de Fortaleza, já relevante no
início do século XX, fazia com que mais e mais migrantes chegassem em busca de
uma vida melhor. Segundo dados do IBGE, em 1950, Fortaleza contava com
89.984 habitantes
recenseados dez anos depois estavam com 244.649, o que significa um crescimento
de 90,6% da população, número que pode
ter sido acentuado devido às secas de 1951 e 1958.
De 1960 a 1970 a
população recenseada de Fortaleza cresceu
69,5%, contando então
com 357.884 habitantes.
Segundo o
documento As migrações para Fortaleza de 1967, citado por Santiago: “dentre as 'razões da saída do
lugar de nascimento', o desejo de 'empregar-se' teve os mais elevados
percentuais: 24,5%; a posse da casa própria, que vem em segundo lugar (...),
teve o índice de 18,6%; e, em 3º lugar, o desejo de ascensão social, ou de mudança
de 'status', traduzido pela expressão 'melhorar de vida', representou 11,0%”.
Para muitos,
Fortaleza seria o lugar para resolução de todos os males, onde parecia ser possível
inserir-se dentro do mercado de trabalho, o que proporcionaria acesso à bens materiais
julgavam inadquiríveis em sua cidade de origem.
Essas famílias ao
chegarem a Fortaleza, quando não tinham parentes aos quais recorrer,
encontravam um terreno, que não houvesse quem reivindicasse a propriedade (espaços
destinados geralmente à ruas e praças ou terras pertencentes a União),e lá montavam
suas barracas.
Jucá aponta os
principais bairros, que surgiram desta maneira, existentes nas décadas de 40 e
50, entre eles estão o Cercado do Zé Padre, o Lagamar, Morro do Ouro, Floresta,
Monte Castelo, o Arraial Moura Brasil, sobre o qual se encontra registros já em
1888, e o Pirambu.
O Arraial Moura
Brasil situava-se entre o centro comercial e a Praia de Iracema. O Pirambu era
considerado uma extensão dele, encontrando-se na zona oeste de Fortaleza, onde
se localizavam as indústrias de Fortaleza,
sendo em sua maioria têxteis. Segundo Jucá, em 1958, a indústria tinha apenas
11,72% de participação na
renda interna do
Ceará, enquanto a área de serviços era responsável por 64,55% da renda interna
do Estado.
Sendo perceptível a
impossibilidade para esta primeira absorver toda a mão-de-obra que chegava à
capital.
Estas pessoas
“desocupadas” incomodavam principalmente os moradores do Benfica e Jacarecanga,
bairros mais aristocráticos da época,
forçando estes a se mudarem pouco a pouco para o leste da cidade. Para o Poder
Público essa população também era incômoda, pois causava prejuízo à economia
local, ocupando áreas cada vez mais valorizadas pela especulação imobiliária,
próximas à faixa litorânea ao leste da cidade.
A valorização destas
áreas, como explica Dantas, deu-se inicialmente pela construção de casas de
veraneio na praia de Iracema pela população mais abastada, devido ao
desenvolvimento de novas práticas culturais, como os banhos de mar e as caminhadas
de praia. Posteriormente, deu-se início à construção de clubes elegantes, vindo
este espaço litorâneo a se tornar um importante ponto de encontro na cidade.
Ainda segundo o
autor, “onde estas classes se instalam, ocorrem expulsões. Inicialmente na
Praia de Iracema, com a especulação fundiária, e posteriormente, na praia do
Meireles, evidenciando uma expulsão crescente dos antigos habitantes”.
Jucá acrescenta a
preocupação das elites com a estética da cidade como também com a segurança,
ressaltando o desinteresse das mesmas em
solucionar o problema da miséria, pois preocupavam-se apenas em afastar essa
massa do perímetro central.
“Na medida em que
aumentava o índice de casebres em áreas consideradas
‘marginais’, mais crescia a preocupação da sociedade civil no controle da
ideologia alimentada, segundo o qual era imprescindível
afastar a pobreza dos espaços estratégicos disputados na cidade. Não se apontava o que realizar, ou
por quais meios o peso da miséria poderia ser avaliado; o objetivo prioritário
prendia-se a manutenção da estrutura ideológica e de seu material, ou seja,
tanto as organizações que as criavam quanto os recursos básicos de difusão dessa
ideologia tinham o intuito de salvaguardar o ideal de ordem e estética urbanas”
A preocupação com a
estética também pode ser justificada pelo fato de Fortaleza estar se tornando
um importante destino turístico. Assim era necessário o embelezamento destes
pontos, como também a construção de equipamentos de apoio para melhor recepção
do visitante.
Os moradores que
residiam nos espaços não regulamentados foram perseguidos cada vez mais pelo
Poder Público, que desejava expulsá-los
sem ao menos dar-lhes uma indenização pela demolição da casa que eles,
em sua maioria, haviam construído. Muitos foram os bairros que sofriam ameaças,
como o Pirambu, o Monte- Castelo, o Coqueirinho, o Teofinho.
Para tentar resistir
a essa ação de desterro, muitos bairros criaram associações, através das quais
tentavam resguardar seu direito sobre a terra, pois acreditavam que ter onde
morar era um direito básico de qualquer ser humano, para eles tratava-se de
justiça social.
As Medidas Públicas:
A criação da SUDENE e do BNH.
Em 1959, foi criada a
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, embasada pela
concepção de que o problema do Nordeste era a falta de recursos para a
Industrialização. Com a implantação deste órgão se solucionaria o problema dos
flagelados da seca, pois ele geraria mais emprego e movimentaria a economia da
região. Assim, foram destinados recursos para a criação de diversas indústrias
em Fortaleza, favorecendo a criação do Distrito Industrial do Ceará no município
de Maracanaú.
Entende-se esta ação como uma tentativa conjunta entre
a Sudene e o Poder Público que também
objetivava o deslocamento do excedente populacional
do centro de Fortaleza para a região metropolitana.
No jornal Unitário de
1970 é possível encontrar referências com relação a destinação destes recursos
para a implantação de algumas indústrias do ramo automobilístico e algodoeiro,
como também é possível encontrar críticas de determinados setores da sociedade.
Estes reclamavam que
o apoio da Sudene também deveria ser estendido às atividades rurais, questão
primordial para se solucionar o problema da pobreza nordestina.
“Tudo a principio
dentro das projeções de Celso Furtado, economista de teoria, profeta de cifras
subjetivas, responsável pelo mal-enfoque da problemática nordestina”. Levantou
numa região de pauperice espessa, uma civilização industrial, deixando fora da
prancheta uma questão primária da sobrevivência do povo nordestino. Ninguém écontra
a floresta de chaminés que escurecem os céus nordestinos. Tão pouco contra essa
profunda arrogância dessa economia industrial.
Tudo isso estaria
perfeito se a agricultura da área – instrumento de
fixação do homem e da
criação de um mercado interno – tivesse, no
programa inicial, o
mesmo apoio que foi dado à indústria. Por que,
paralelamente ao
incremento industrial, não se deu amparo
às
pequenas, médias e
grandes propriedades rurais? Por que não se
produz irrigação
racional para neutralizar o fenômeno cíclico das
secas? Não me venham
com reforma agrária, chavão desmoralizado, porque nunca apreciado com seriedade.
Nem me falem de mudanças de estruturas, outro rataplã da vigarice
socialista.(...)
Mas o nosso caso é a
SUDENE – ela e o Nordeste – tem feito muito essa poderosa
Superintendência para levantar o “status” social do irmão nordestino.
Ela, no tempo, de Euler, de Afonso de Albuquerque, cresceu, revitalizou, captou
incentivos fiscais para a implantação
industrial na área. Surgiam muitas fábricas, muita riqueza de chaminé, e
os anjos disseram amém.”
Segundo dados do IBGE com a SUDENE, o número
de quase todos os gêneros de indústria mais que duplicaram de 1960 a 1975, como por exemplo, os gêneros de
produtos de minerais não metálicos, metalúrgica, têxtil, produtos alimentares,
bebidas, editorial e gráfica.
Embora tenha sofrido
críticas, como foi visto, a criação da Sudene ajudou na absorção de uma parte
da mão-de-obra disponível em
Fortaleza. Para
facilitar o deslocamento dos trabalhadores para o I Distrito Industrial de Maracanaú,
foram criados vários conjuntos habitacionais, como, por exemplo, o Jereissati
I, II e III, o Industrial, o Timbó, o Pajuçara e o Novo Maracanaú.
Como também, foram
construídos outros conjuntos habitacionais relativamente próximos, localizados
ao norte de Maracanaú, como o Aliança, o Manoel Sátiro, o Esperança, o Novo
Mondubim e dentre outros o objeto desta pesquisa, o Conjunto Habitacional Prefeito
José Walter.
A política de Criação
de Conjuntos Habitacionais em todo o Brasil já estava em curso desde 1964,
quando foi criado o Banco Nacional de Habitação – BNH – que tinha como
principal objetivo financiar habitação para as camadas sociais de baixa renda
(03 a 05 salários mínimos).
Decisão tomada, como
já foi dito, devido às transformações ocorridas no Brasil causada pela rápida e
descontrolada migração da população rural para as grandes cidades. Cidades como
Manaus, Belém, São Luís, Olinda, Aracaju, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro,
Petrópolis dentre outras, já haviam recebido financiamento por parte do BNH.
Segundo documento
produzido pelo próprio BNH, problemas fundamentais deveriam ser solucionados
com a construção
desses conjuntos:
habitação, com ênfase no atendimento das famílias de menor renda; serviços de infraestrutura
(água, esgotos, pavimentação, energia, comunicações e transporte de massa);
equipamentos comunitários, desde escolas e hospitais até meios
de segurança e
centros de recreação, incluindo o pequeno artesanato e a rede de comércio
local, e; a preservação do meio ambiente, sobretudo através do combate à poluição
do ar, das águas e do solo.
Assim, Fortaleza, que
segundo mensagens do governo já havia sido beneficiada com o financiamento da
construção de algumas casas realizadas pela COHAB – Ceará, cria sua própria
Companhia de Habitação – COHAB - Fortaleza – em 1969, órgão de execução exigido
pelo Banco Nacional de Habitação e o Sistema Financeiro de Habitação – SFH a
partir da LEI de Nº 4.380 de 21.08.1964, sendo os financiadores o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço – FGTS e a Poupança Voluntária ou a Caderneta de
Poupança.
Rodrigues aponta três
dificuldades que seriam enfrentadas pelo BNH/SFH, o déficit habitacional
brasileiro de grandes proporções; os critérios de escolha da casa que seria de
acordo com a faixa salarial do inquilino;
e, as taxas de juros cobradas pelo órgão financiador. Sendo este último
o mais problemático, pois era necessário estar sempre revendo essas taxas para
que houvesse a aquisição das casas. É o que nos revela a fala dos industriais
de construção civil sobre o programa
proposto pelo BNH, no
jornal Unitário de
18.10.1970.
Essa faz
referência a pontos que o programa
deveria
observar: “a)baixa de
taxas de juros reais, no caso indicados; b)extensão de prazo, com financiamentos
consolidados das dívidas; c) revenda, em condições especialmente vantajosas, de
juros e prazos e execução das hipotecas pelo Decreto – Lei 70 (que criou,
inclusive, a cédula
hipotecária)”.
Esta preocupação
explica-se pela inadimplência existente com relação ao pagamento das prestações, que fazia com que a COHAB despejasse os
moradores
Não se pode esquecer
que através de propagandas a realização do “sonho da casa própria”, pelo
morador de Fortaleza, parecia cada vez mais possível. Assim, foi mais fácil
convencer este a deixar seu lugar de morada em prol de algo que seria seu, com
o pagamento de pequenas prestações que eram equivalentes ao salário do
proletariado, estas
correspondiam a valores destinados a aluguéis.
A esse respeito, no Jornal
“Unitário”foi localizada uma propaganda de página inteira apresentando as plantas
dos modelos das casas que iriam ser construídas no Conjunto Habitacional “Cidade
2000”. Estas propagandas também eram
realizadas com o intuito de promover o Golpe Militar de 1964, como podemos
observar em nota de comemoração do sexto aniversário do BNH, publicada em
jornal.
“O BNH nasceu com a
revolução de 1964”. Sua preocupação primeira: criar condição de moradia em todo
o país. E em seis anos 600.000 novas residências.
O BNH cresceu com a
Revolução de 1964. Meta: O homem. Dar-lhe condições melhores de vida. Novas
oportunidades eesperanças. O BNH financia obras de saneamento por todo o
Brasil. 972 dos 4.000 municípios brasileiros passam a ter água tratada. 36
milhões de pessoas beneficiadas. E movimentam-se projetos de planejamento urbano
e para a criação ou ampliação de redes de esgotos.
O BNH realiza-se com
a Revolução de 1964. O BNH sabe que tudo
isso foi possível
pelos recursos obtidos através das contas do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço e da Poupança Voluntária captadadas letras imobiliárias e cadernetas de
poupança.
Dinheiro do povo. Que
reverte ao povo, no seu direto e justo benefício. Por “isso nos sentimos
orgulhosos quando nos chamam: Banco Nacional da Humanização.”
Percebe-se que os
militares tinham o interesse em sensibilizar as camadas mais baixas, destacando
o seu intuito em trazer mais dignidade ao homem pobre, através da redução do
déficit habitacional.
Conforme o jornal
Unitário este girava em torno de
60 mil habitações em
Fortaleza. Assim, deu-se início a construção do Conjunto Habitacional “Sétima
Cidade” no distrito de Mondubim.
De “Sétima Cidade” a “Prefeito José
Walter”: O Projeto.
O Conjunto da Sétima
Cidade foi construído em terras compradas do Sr. Eduardo Montenegro, por dois
milhões de cruzeiros à época, segundo Rodrigues.
Conforme relatos já
existiam algumas casas e comércio para abastecer os trabalhadores das terras do
Montenegro. Na década de 60 existia apenas uma empresa de ônibus, que fazia o
trajeto para Fortaleza duas vezes ao dia, pela manhã e a noite. Uma matéria de Heráclito
Thé, fala um pouco sobre o terreno onde foi construído o bairro:
“Antes era apenas um vasto espaço ocioso
esporadicamente ocupado por raras herbáceas vulgares sem nenhuma validade digna
de registro”.
Depois aquela ampla
faixa improdutiva no esmo cenário da paisagem asfáltica denominada de
perimetral, uma rodoviária através da qual se escoaria o trânsito urbano da
capital, ligando-a na conta verde, do distrito de Mecejana e suas adjacências
(...)
(...) Começando da
nesga direita da pista, o chão arenoso e fofo ao perder-se ao alcance
dos olhos, estendia-se no varzeado da vegetação escassa, somando uma quilometragem
satisfatória de terras em repouso, local
tipográfico de qualidade especial e bons
ares, como diria o legendário Pero Vaz de Caminha.
O sítio mediava entre
as glebas comunitárias de Mondubim e Mecejana, com
milhares de metros de terra obsoletas e inermes; ali os técnicos urbanistas puseram
a viabilidade de localização do Conjunto Residencial Previsto para acomodar 4.425
casas populares com que o Governo Federal pretende resolver o déficit
habitacional e oferecer ao homem de poucas
posses a oportunidade de tornar-se dono de sua moradia e livrar-se do secular
pesadelo do explorador inescrupuloso senhorio.”
No início de 1970
foram entregues 1208 residências, em agosto, foram entregues mais 1810 e em
janeiro de 1971 estavam previstas para serem
entregues mais 1406, perfazendo
o total de 4.424 casas. Porém segundo as pesquisas, ainda em 8 janeiro de 1973
estavam sendo entregues as casas da terceira etapa.
O autor complementa:
“Acolá, antigo
estágio de solidão quase silvestre, a
COHAB –
Fortaleza, com verbas
consignadas ao BNH, em tempo recorde
construiu uma cidade
moderna e alegre, farta de água e luz profusa,
higiene e escoamento
hidráulico, tudo de forma simples, mas de
feição atraente
humanizada. (...)”
Durante a entrega da
segunda etapa, o prefeito José Walter se ausentou, teve que passar 40 dias na
Suécia. Enquanto esteve ausente o substitui o presidente da COHAB - Fortaleza o
Sr. Francisco Carvalho Martins. Segundo
Sr. Victor, morador do bairro desde 1970, durante esse período de ausência do
Prefeito, a Câmara Municipal sugeriu que o nome do conjunto habitacional passasse
a se chamar “Prefeito José Walter”, fato que foi confirmado pelo ex-prefeito
José Walter em entrevista.
De acordo com o Sr.
Victor, este iria se chamar Casimiro Montenegro, e não “Sétima Cidade” como nos
jornais, em homenagem ao pai de Eduardo Montenegro, que teria cedido ou vendido
(não sabe ao certo) as terras para a construção do bairro em troca da
homenagem.
Como diz:
“Aqui era um sítio,
do Seu Eduardo Montenegro. Então ele
vendeu esse terreno
para o José Walter Cavalcante, que era o
então prefeito de
Fortaleza. (...). Então o seu Eduardo cedeu esse
terreno fazendo
algumas exigências, entre as quais: fazer parte
da comissão de
construção e colocar o nome no conjunto do pai
dele. Que aliás ele
mesmo é que me contou, eu me dava com ele,
ele apesar de ser
rico, mas tinha muita consideração por mim,
ele conversava muito
comigo e me contou toda a história. Foi
uma grande decepção
pra ele e pra senhora mãe dele quando
saiu no jornal outro
dia: 'Inauguração do José Walter'. E a mãe
dele ficou
decepcionada porque não saiu o nome do pai dele.”
Já nas lembranças do
Sr. Carlos, morador do bairro desde os primeiros anos, o terreno havia sido
doado, por isso, chegou a conclusão que “o nome era até pra ser Montenegro, e
não José Walter. O Montenegro doou esse terreno todinho sem nem um
ônus de volta”.
Porém, muitos outros
moradores consideram justa a homenagem ao prefeito dizendo muitas vezes que “se
ele ajudou a construir, merece ter o nome dele”.
Percebe-se claramente
uma disputa pela perpetuação da memória
entre um grande latifundiário da região e o então Prefeito da época.
Apesar de críticas ao
governo não serem muito comuns nos jornais do período, encontrou-se reclamações
com relação à construção destes bairros tão distantes e dispendiosos:
“Estas 4.424 casas
constituirão uma cidade, e uma cidade exige
serviços de natureza
dispendiosa. Assistência médica, hospitalar,
odontológicas, são
alguns dos diversos tipos de serviços que terão que ser postos a disposição do
povo, sem contar um pequeno centro comercial, escolas, igrejas, policiamento,
etc. E tudo isto representa gastos, despesas e muitos votos para eleger
políticos no futuro.”
O governo ganharia,
possivelmente, os votos dos moradores desse e de outros Conjuntos, se essas
promessas sobre infra-estrutura houvessem sido concretizadas.
Porém, estas se
tratavam mais de propaganda para atrair futuros moradores, como também, para
promover o próprio governo perante as
pessoas que não conheciam a realidade dos conjuntos habitacionais.
O autor ainda sugere:
“E ao invés de se
pensar em construir cidades distantes como faz a
Cohab-Fortaleza, poder-se-ia
estudar a possibilidade de espalhar, pela cidade, em muitos bairros com imensas
áreas disponíveis, essas mesmas casas que vêm sendo construídas, como por
dizer, no ‘sertão’”.
A Cohab-Fortaleza
realmente poderia ter construído casas próximas ao centro, como fazia a
Cohab-Ceará inicialmente, porém o interesse maior, como se viu, era afastar
essa camada mais pobre do centro, por isso a escolha por obras em locais distantes.
O jornal “Unitário”
explica que “A entrega das casas da segunda etapa do Conjunto Prefeito José
Walter, (...) está sendo efetivada de acordo com o sistema de classificação de
blocos afim de evitar a aglomeração de pretendentes que não estejam classificados
para receber nas datas previstas.”
A lista das pessoas
que iriam receber sua casa posteriormente saia no jornal, para que esta se
encaminhasse na data prevista para apresentar a documentação necessária e
assinar o contrato de obrigação financeira para com o BNH. Os solicitantes
receberiam sua casa de acordo com o nível salarial destes.
Os padrões das Casas
da Cohab- Fortaleza eram A, B,C e D.
Todas tinham a mesma
área de terreno (200 m²), o que facilitou as reformas de ampliação posteriormente
realizadas por muitos moradores.
Não foi possível até
então encontrar plantas das casas construídas no José Walter.
Mas, segundo
entrevistas, a casa de tipo “A” tinha dois quartos, uma sala, uma cozinha, um
banheiro e uma área;
A de tipo “B”,diferencia-se
da “A” por ter uma sala
maior;
A de tipo “C” tinha
três quartos, uma sala, um banheiro, uma cozinha e uma área;
A de tipo “D” tinha os mesmos compartimentos da
de tipo “C”, porém possuía melhor acabamento, era forrada e continha caixa
d’água.
A escolha se dava através de um sorteio na
própria COHAB. O próprio morador sorteava a casa onde ia morar colocando a mão
dentro do saco onde estavam os endereços das casas correspondentes ao padrão (A,
B, C ou D) que lhe foi destinado.
Considerações
finais
A partir do que foi
exposto, percebeu-se que planejamento urbano, tinha a intenção de
“esquadrinhar” as camadas mais pobres em zonas da cidade que, estrategicamente,
deveriam se localizar fora dos espaços de sociabilidade das elites da cidade
Fortaleza.
Portanto, a tônica
dessa política se baseava na divisão espacial da
cidade entre
zonas mais valorizadas – habitadas pelas elites – e os locais mais longínquos destinados as
camadas populares que tanto incomodavam os setores mais abastados da sociedade fortalezense.
As propagandas
referentes a esses Conjuntos Habitacionais se utilizavam do sonho, da maioria
dos moradores, de ter sua casa própria que seria construída em um local
distante da cidade, porém com toda a infra-estrutura necessária, como água
encanada, fornecimento de energia, saneamento básico, escolas, igrejas,
parques, posto de saúde, transporte.
Propagandas em grande
parte enganosas que fizeram com que
muitos saíssem do
aluguel e fossem morar num bairro isolado localizado no distrito de Mondubim.
Contudo o que será visto é que o Conjunto foi entregue, como diz o Sr. Victor,
somente com as casas.
Este foi se
construindo com iniciativas executadas, não raramente improvisadas, pela
própria comunidade que tentava superar as inúmeras dificuldades que havia no
conjunto habitacional, principalmente, relativas ao transporte, fornecimento de
água e luz. Mesmo reivindicando do poder público a solução para os inúmeros
problemas de infra-estrutura, a própria comunidade teve que ir desenvolvendo meios
para tentar superar toda sorte de dificuldades que se apresentavam em seu cotidiano,
tomando para si, responsabilidades que cabiam ao Estado.
Curiosidade: em sua inauguração foi considerado o maior conjunto habitacional da América Latina.
Fonte: Dados retirado do artigo O processo de constituição do Conjunto Habitacional Prefeito José Walter de Marise Magalhães Olímpio.
Foto: Internet.
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